sexta-feira, 1 de abril de 2011

Rir ainda é o melhor remedio kkk

A loja era bem ampla, porém mal iluminada. Pé-direito alto, fachada chamativa e portas largas que davam fácil acesso. Vendia móveis e eletrodomésticos, em geral. Havia certa desorganização, percebida logo da entrada. O sol já desbotara alguns produtos em exposição, que por conseqüência exprimiam aparência de velhos. Nas portas de vidros, cartazes sobrepostos anunciavam ofertas, muitos, porém, encontravam-se rasgados e referiam-se a promoções ultrapassadas. Tenho certeza que esse cenário você conhece. Agora, vamos à minha história.

Manhã. Estou desejando comprar um fogão. Quero uma marca boa, que tenha tradição e reputação de qualidade. Cor, tamanho e funções, já estão bem definidos. Estou na fase de pesquisa de preços. Entro na loja. Não percebo uma viva alma para me atender. Aprumo a vista para enxergar melhor, a iluminação é precária, apesar da claridade do dia. Percebo um grupo de quatro vendedores conversando. Eles, todavia, não parecem ter me notado. Dirijo-me à sessão de fogões. Olho um. Mexo em outro. Ninguém aparece. Alguns fogões têm cartazes com preços e condições de pagamento, mas não esclarecem as diferenças entre os modelos. Estou cheio de dúvidas. E continuo sozinho. Uma cliente entra e vai para a sessão de televisores. Um dos vendedores desloca-se até ela. Começo achar que o problema é comigo. Mas minha roupa está normal. Não estou tão mal vestido assim. Ergo os braços, gesticulando para chamar a atenção dos outros vendedores. Não funciona. Continuam desprezando minha presença. Bato palmas. Eles olham, mas voltam a conversar. Radicalizo: com os dedos indicadores dou um assovio digno de arquibancada de futebol. Um dos vendedores faz sinal como que perguntando o que eu quero. Aponto para os fogões. Através de sinais, ele me manda esperar. Não é bem o que eu desejo, já estou na loja há mais de 15 minutos. Vou até o vendedor que está acompanhando a outra cliente. – Amigo, eu estou querendo comprar um fogão, alguém poderia me atender? – O vendedor de fogões é aquele outro ali – e aponta para o grupo. – Eu o chamei, mas ele me mandou esperar. A cliente olha para mim com ar reprovador; e eu esperava contar com sua solidariedade. – O senhor espera ali um pouco –, e o vendedor me dispensa. Começo a achar que estou ficando louco. Resolvo apelar: subo em uma mesa de centro e batendo palmas começo a cantar: – Eu quero comprar! Eu quero comprar! Os três vendedores correm em minha direção. Como não sei as reais intenções deles, resolvo correr também na direção contrária. Desviando de um sofá daqui, de um armário dali, vou em direção ao fundão, percebendo que minha agilidade do tempo de jogador de futsal ainda me serve para alguma coisa. Chegando lá, vejo que minha estratégia não foi das melhores. Estou num beco sem saída. Os três vendedores estão no meu encalço e o quarto vem do outro lado. Um rapaz que estava montando armários também se levanta e fico assustado porque ele tem um martelo nas mãos. Um gerente, gordinho e suado, sai de uma salinha fechada ao notar a confusão. Só há uma chance, apesar de não ter asas, dou um vôo e subo em um dos guarda-roupas. Sentindo-me seguro, prossigo com minha música: – Eu quero comprar! – Eu quero comprar! Sou cercado pelos quatro vendedores, pelo montador e pelo gerente. A cliente também vem gritando em minha direção. De cima, posso ver que suas feições não são nada amigáveis. Nada de bom me aguarda na descida. Um deles dá a idéia: – vamos virar o guarda-roupa que ele desce! O gerente grita comigo: – lugar de arruaceiro é na rua! Entra a polícia. Minha coragem se esvai. Rendo-me. Sou levado à delegacia.

O Delegado, muito educado, interroga-me. Conto-lhe minha via crucis para comprar um fogão. Ele desabafa: – Sei o que você passou. Acontece comigo também. É horrível. Mal-atendimento a cliente é que deveria ser caso de polícia, ele sentencia. – Dá próxima vez, compra pela internet que é melhor. Ele me libera, sem me fichar. Sinto-me aliviado agora.

Vou comprar pela internet mesmo. Essa será minha vingança. (Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas ou lugares reais é mera coincidência).

(artigo de Carlos Vonsohsten)

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